8.10.08
ASP Kirstin © Covered ImagesTeco Padaratz certa vez cruzou com Kelly Slater numa final de WCT. Foi em Hossegor, 1994. O careca ainda tinha cabelo, o mar tava pequeno. Ninguém esperava, mas o endiabrado Flávio derrotou o monstro com uma saraivada de pauladas de backside. Na saída da água, entre sorrisos e fairplay, Slater disse a Teco algo como "comemore bastante, porque isso jamais vai se repetir". A história foi contada por Teco. Não lembro exatamente a frase do Slater, mas a idéia do americano era essa mesmo: reforçar sua posição de imbatível, fazer o brasileiro acreditar nisso, vender-se como o campeão natural, o homem marcado para vencer. Sempre.
Vai ter amigo me acusando de sacrilégio, mas em toda a carreira do americano o que mais me impressionou não foi o seu surfe. A diferença de Slater em relação a outros surfistas foras-de-série é a assustadora capacidade de dominar psicologicamente os adversários. É a força mental. Claro, não é só isso. O cara uniu a mentalidade vencedora com um fabuloso dom para o surfe, uma rara capacidade de leitura de onda e o porte físico ideal para o esporte. Um iluminado.
Por isso, ganhou nove títulos. Mas o gênio seria apenas mais um grande surfista se, em vez de ter somente a vitória na cabeça, vivesse atormentado pelo complexo de vira-lata que se abate sobre alguns surfistas conhecidos do tour. A prova da importância da psicologia na carreira de Slater é Andy Irons. O havaiano foi o único que, em algum momento, foi um adversário mental à altura do americano. Um dia, Irons dominou a cabeça de Slater. E isso quase destruiu o americano. O título de Mick Fanning não foi nada perto das derrotas para Irons.
A diferença é que Slater é vencedor. Catou os cacos e voltou com tudo. Irons não resistiu e, dizem, acabou no rehab. Hoje, vaga sem rumo. Vencer ou vencer não é para qualquer um.
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