Surfe deluxe

Tiúba em cores

3.7.08


Fotos de Tony D'andrea (surfe) e Gustavo Cabelo

Elisio Tiúba nasceu em Salvador, mas sua certidão foi expedida no Pontão do Leblon. Verve de artista, ele se inspirou nas curvas do surfe para colorir telas brancas, pranchas e outros espaços disponíveis. Melhor assim: livrou-se da pecha de vagabundo com notas ruins na escola para se tornar autor de um trabalho fluído, expressivo, que ganha destaque em exposições convencionais, em pranchas espalhadas na praia, em t-shirts e até no documentário Indo.doc.

Surfe Deluxe fez uma pá de perguntas via e-mail ao Tiúba. Queria saber mais sobre a arte desse surfista de 25 anos, coisa difícil de explicar em respostas eletrônicas. O cara não puxou o bico: "A forma como pinto ou desenho muitas vezes está ligada aos movimentos que faço surfando, e também à maneira como enxergo o mar e suas variações. Utilizo, ainda, diferentes técnicas de representação, adquiridas graças ao meu interesse pela arquitetura."

E o que o surfe tem a ver com isso? "Surfar é como desenhar sobre as ondas. É uma arte mais do que efêmera, pois em poucos segundos uma bela linha vira espuma e, em seguida, boas lembranças". Bom motivo para Tiúba enxergar Bruninho Santos, Marcelo Trekinho e Marcos Sifú como artistas das ondas. "Ele se expressam de modo completamente diferente. A diferença está na forma como o surfista lê a onda, se movimenta, se expressa."

Antes que um apressado enquadre Tiúba num estereótipo do artista-surfista monotemático, vendido em feiras a um real, ele rabisca na tela a seguinte mensagem: "A vida é muito complexa para ter apenas uma fonte de inspiração. Não quero ser como (o americano Robert) Wyland ou o (havaiano Christian) Lassen, que depois de descobrirem que pintar ondinha perfeita, golfinho e tartaruguinha era legal, não fizeram mais outra coisa. Isso não faz muito sentido para mim. Gosto de correr riscos, de viajar, de conhecer grandes cidades."

Tiúba ainda não vive de sua arte. E se assusta com a possibilidade de encarar o seu dom como um ofício. "Acostumei-me a ver trabalhos artísticos perderem a qualidade por causa do próprio dinheiro, fui claro? É complicado! Ainda não aprendi a calcular o valor dos meus sonhos, e se for preciso trabalharei em outras áreas para continuar realizando-os. É como alguns surfistas, que depois de se profissionalizarem, esquecem da diversão e do prazer que o surfe proporciona, e começam a se cobrar, se frustrar e sofrer em busca de resultados." E encerra, com um desejo: "Não quero que a arte se torne uma obrigação na minha vida."

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Foto de fundo: Saquarema, por Fábio Minduim / Layout: Babi Veloso
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