Surfe deluxe

Bahia (III): ondas de Mata Atlântica

23.7.08








De cima para baixo: duas vezes Tiririca, Jeribucaçu, Itacarezinho, Prainha e Havaizinho.


Abaixo, o terceiro e último relato do viajante Fredinho no litoral baiano. É a vez do paraíso na Terra chamado Itacaré e suas praias recheadas com Mata Atlântica. Leia abaixo:
Segui viagem mais para o Sul da Bahia: o destino era Itacaré. Estava curioso para conhecer essa cidadezinha que é tão famosa pelas suas ondas e beleza natural. Cheguei na Pituba, bairro ao lado das praias e fui em busca de uma pousada. Fiquei numa das últimas da rua (Pousada Puerto Escondido), para acordar mais perto das praias.

Peguei a prancha e fui checar as ondas - praias do Rezende, da Tiririca, da Costa e da Ribeira. Uma ao lado da outra e de fácil acesso! As ondas estavam bombando, com cerca de um metrão na Tiririca, mas o crowd estava pesado. Boa formação, direitas e esquerdas lisas, abrindo. Fiz algumas fotos e vídeos, e achei que valia mais a pena encarar a trilha para a Prainha. Numa praia mais distante do centrinho, o crowd seria menor e as ondas poderiam estar boas também. A trilha é tranquilha, mas em certos pontos é fácil de se perder, pela falta de sinalização e excesso de bifurcações.

Depois de me perder por alguns minutos, finalmente cheguei à bela Prainha. Que visual! Uma praia com pouco mais de 1 km, repleta de coqueiros verdes e um morro alto no seu canto direito. Lá, foram realizadas etapas do circuito mundial de surfe feminino e do SuperSurf. Apesar de ser abrigada, a Prainha apresentava ondas de 1 metro e séries maiores, um pouco balançadas pelo vento que rolava lá fora, quebrando bem no outside e proporcionando paredes bem formadas e boas para manobras. Devia ter apenas 5 cabeças dentro d’água, e as ondas estavam espalhadas em três diferentes pontos com a maré começando a encher. Comecei surfando mais para o canto direito, aproveitando as ondas quem vinham da direita e algumas esquerdas mais longas que quebravam mais no meio da praia. Ondas boas… fortes e bastante verticais! Fiquei surfando na vala do meio da praia e no finalzinho da tarde migrei para o canto esquerdo onde estavam rolando ondas de pico! Consegui aproveitar bem meu primeiro dia de surfe em Itacaré.

Queria conhecer as praias mais afastadas do centro de Itacaré e, para isto, teria que encarar o ônibus que sai da cidade e circula na rodovia em direção a Ilhéus e Itabuna. No dia seguinte, peguei o tal bus na rodoviária e fui em busca das ondas da região Sul. Saltei próximo à entrada de acesso à praia de Itacarezinho e fui descendo a ladeira. Lá de cima, há um mirante com visão para a praia toda. Itacarezinho é uma praia muito extensa e aberta. Uma larga faixa de areia, muitos coqueiros e um costão de pedras no seu canto esquerdo. A praia é bonita e bem preservada. Dá para notar que a comunidade que trabalha no restaurante local cuida bem do Itacarezinho. Estavam podando e limpando a área do entorno do restaurante. Dava para ver as linhas de ondas de 1 metro entrando no outside e vindo quebrar nos bancos de areia e lajes de pedra, com uma formação irregular, devido ao forte vento Sul que soprava. Lá em baixo, na areia, de frente para o mar, senti que o vento estava muito forte, prejudicando as condições do surfe. As ondas fechavam muito. Resolvi pegar a trilha para a praia da Engenhoca. A trilha é longa, mas a paisagem é de cair o queixo! Para se chegar à Engenhoca partindo da trilha no canto esquerdo do Itacarezinho, você terá que passar por duas outras praias: Camboinha e Havaizinho. Fora de época não há ninguém perambulando por essa região. Caminhei uns 45 minutos e só vi duas vendedoras de côco estrategicamente posicionadas. O trajeto de Camboinha para o Havaizinho é feito por cima de uma pedraria sem fim. A cor do mar fazia um tom degradê de verde escuro (parecendo barro), passando para um verde claro, até chegar ao azul marinho do horizonte. O céu era de um azul profundo com algumas nuvens brancas ao fundo. Coisa de filme! As ondas estavam mexidas e quebrando em cima das lajes de pedras. Será que surfam no Havaizinho? Acho que não daquele jeito!

Tomei uma água de côco e segui a trilha para a Engenhoca. Depois de passar pelo belo costão, me deparei em uma curva da trilha com uma “janela” emoldurada pela mata verde, de onde eu podia ver a praia da Engenhoca, boas ondas rolando e alguns surfistas no pico. Fiquei feliz em ver aquelas ondas, acelerei o passo em direção a praia. Atravessei o riozinho no canto direito e busquei um abrigo para deixar minha mochila. Dentro d’água, já vi um local de Itacaré manobrando bem na onda! A maré estava enchendo e o vento tinha dado uma balançada nas ondas, mas mesmo assim, elas quebravam com boa formação: esquerdas e direitas rolando por toda a praia desde o outside até a beira. As séries estavam constantes, e todos estavam pegando boas ondas! Aos poucos a galera debandou e, no final, ficaram só eu e mais dois outros surfistas.

Foi então que eu conheci os primos Daniel Guedes e Felipe Queiroz, dois bons surfistas paraibanos que me contaram maravilhas da terra de Fabinho Gouveia! Os caras se tornaram verdadeiros brothers e ótimos companheiros de surfe nos dias que se sucederam. Ainda naquela tarde, depois de muitas ondas surfadas, a maré encheu e o mar piorou! Comemos umas frutas e encaramos a trilha de volta até a estrada. Dali, bumba para Itacaré e PF para forrar a barriga dos guerreiros!

O terceiro dia da saga em Itacaré foi reservado a desvendar as belezas da praia de Jeribucaçú, um paraíso natural a alguns quilômetros ao sul de Itacaré. Havia marcado de sair logo cedo com os paraibanos, mas os caras estavam um pouco atrasados e resolvi me adiantar para tentar pegar as ondas ainda sem vento ou com uma leve brisa de terral, que é normal nessa época na Bahia. Surfe lá tem que ser de manhã cedo para pegar glassy. Depois o terral sopra até às 10h. Corri até a rodoviária e acabei pegando o buzum das 8h. Desci próximo à entrada da trilha e fui perguntando por onde era o caminho. Não há sinalização alguma, e muito menos alguém circulando por ali! Finalmente entrei na trilha depois de atravessar pelo meio de uma porteira. Foi aí que começou a odisséia para se chegar ao paraíso! A trilha é pesada e bastante longa, com muitas subidas íngremes. Parece até que você nunca vai chegar. Em uma certa parte da trilha, você consegue avistar lá em baixo um pedacinho do costão no canto direto da praia.

A chegada é deslumbrante! Um mangue largo onde desemboca um rio de água límpida e transparente em direção ao mar… A praia estava deserta e a maré, ainda seca. O vento ainda passava por fora, ao longo da praia, e quebravam ondas com cerca de um metro quebravam certinhas no banco de areia. Larguei a mochila no pé de um coqueiro e corri para dentro d’água. Surfar sozinho numa praia linda como aquela e afastada da civilização é uma benção de Deus! Aproveitei bem aqueles momentos de paz e surfei aquelas ondas rápidas que quebravam para os 2 lados. A visão de dentro d’água era gratificante! Ondas lisas quebrando sozinhas, cercadas por um morro repleto de coqueiros e um costão verde de Mata Atlântica.

Algum tempo depois, a dupla paraibana sai de dentro do mangue (vieram por outro caminho) e se junta a mim para desfrutar daquele paraíso! Nós três ficamos ali, surfando e contemplando aquela beleza toda da Praia de Jeribucaçú. Apesar de curtas, as ondas tinham força! Nós nos perguntávamos uns aos outros: “Já pensou essa praia recebendo um swell forte num dia de terral?” Pelo que ouvimos dos locais de Itacaré, Jeribucaçu é uma das praias mais constantes e que atura ondulações grandes na região. Ao longo do dia, a maré foi enchendo e o vento maral ficando mais forte, estragando a formação das ondas. Saímos do mar para comer algo e repor as energias. A segunda sessão de surfe não rendeu muito para mim, pois a onda já estava gorda e sem força.

Resolvemos nos adiantar, pois a trilha nos aguardava. Caminhada forte, com direto a um belo pôr-do-sol na estrada. À noite, matamos outro PF junto com Pedrinho Gouveia, também surfista paraibano, amigo dos primos, que estava de passagem em Itacaré, indo para São Paulo de carro com os pais, onde pegaria um vôo para a Austrália. O moleque tem 18 anos e vai morar e estudar alguns meses na Gold Coast. Arriscamos uma noitada num barzinho chamado “Quintal”, mas tava devagar. Só jogamos sinuca.

Infelizmente, meu último dia de viagem tinha chegado! Era chegada a hora de surfar na Tiririca. Passei na pousada dos paraibanos, e fomos todos para a praia. Descemos pela Praia do Rezende, e já era possível avistar boas ondas rolando na Tiririca - um metro com séries maiores! As ondas estavam lisas, sem vento algum, e o crowd ainda era pequeno! Fiz algumas fotos e vídeos e entramos para surfar. De cara, já vi um dos locais tirando um tubão seco numa direita com tamanho! Rolavam uns drops verticais, e a onda proporcionava uma parede perfeita para executar qualquer manobra. A Tiririca apresenta três picos distintos: canto direito, canto esquerdo e meio. A ondulação vinha de Leste e ficava jogando pra cima do costão de pedras para o lado da Praia da Costa. No início, com a maré mais seca, as séries bombavam constantemente, e todos estavam se divertindo naquele playground do surfe. Ondas pesadas e perfeitas! Tem uma galera que quebra mesmo por lá! É uma praia perfeita para captar imagens de surfe. Após uma chuva forte e com a maré enchendo, o mar abaixou e fomos obrigados a sair da água. Mas o surfe valeu!

No fim do dia, peguei o bus para Ilhéus e mofei no aeroporto até a hora do vôo corujão para o Rio. A viagem foi um sucesso. A Bahia é show de surfe! Gostei muito de cada lugarzinho por onde passei! Desde já, começo a planejar uma futura surftrip baiana no intuito de conhecer a cultura local, outras praias, pessoas e ondas que ainda não surfei.

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Blog de notícias sobre as ondas e seus personagens, escrito com palavras salgadas pelo jornalista Tulio Brandão.
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Créditos
Foto de fundo: Saquarema, por Fábio Minduim / Layout: Babi Veloso
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