Surfe deluxe

Bahia (II): um morro e várias ondas

21.7.08



Na ordem, pôr-do-sol obrigatório em Morro de SP, Point do Moleque e Quarta Praia



Fredinho Schmidt segue o relato da viagem ao litoral baiano. Desta vez, o destino é o Morro de São Paulo. Amanhã, Surfe Deluxe publica o texto sobre o último destino da surftrip: Itacaré. Leia abaixo o diário do Fredinho sobre as ondas e a vida em Morro.
Meu irmão teve que retornar ao Rio para trabalhar e, a partir daí, eu estaria sozinho. De Salvador, peguei o catamarã que faz a linha para Morro de São Paulo e parte do terminal náutico que fica próximo ao Mercado Modelo. Uma embarcação enorme de casco duplo, com capacidade para dezenas de pessoas. É um passeio belíssimo, onde é possível admirar a paisagem de Salvador, da Ilha de Itaparica e finalmente a chegada em Morro de São Paulo. O tempo fechou durante o trajeto e caiu um chuvisco. A viagem dura em média 1h40m de catamarã. A chegada em Morro de São Paulo me motivou, pois dava para sentir a enorme embarcação surfando as vagas que passavam por nós em direção à ilha. Mais de perto pude avistar a espuma branca ao lado das pedras que demarcam o principal pico de surfe de lá, o pico do Moleque. Percebi que havia ondas, mas não conseguia vê-las pela distância. Fiquei ansioso para chegar logo e ir surfar.

Depois de desembarcar e pagar a taxa de preservação (R$ 6.50), fui procurar uma pousada para me instalar. No meio do caminho, caiu um dilúvio. Achava que ainda estava um pouco longe da praia e resolvi descer o morro. Acabei me instalando numa pousada simples na segunda praia, era mais perto do pico.

Peguei a prancha e fui para dentro d’água. A maré estava secando e, na entrada, passei remando por cima de uma fina lâmina d’água, por cima das pedras. Remando para o outside, pude ver um surfista vindo em uma onda lá fora. A bancada de coral é bastante extensa e as ondas quebram com uma formação perfeita e muita força. A onda é uma direita que funciona com ondulação de leste e precisa de um swell de grande intensidade. Caso contrário, o swell não encaixa na bancada e a onda não quebra. A visão de dentro d’água é alucinante. Para um lado, você consegue ver a primeira praia e o morro coberto de casas; mais para a ponta, o morro do farol e sua tirolesa; e, para o outro lado, as pedras do point do Moleque, a segunda praia e a Ilha da Saudade. A onda vem desenrolando desde as pedras do point e vai abrindo em direção a praia, percorrendo uma longa extensão. Com a maré secando, ela se torna rápida e com uma sessão tubular. É preciso tomar cuidado com as pedras na hora do drop e no percurso da onda, pois à medida que a maré vai baixando, as “cabeças de nêgo” vão aflorando e tornando o surf mais perigoso e difícil. Às vezes, você está sentado na prancha e quando a onda vem, a ponta da pedra aparece e dá aquela sugada!

Vi os locais surfando bem por lá! Os melhores dropavam as maiores mais para dentro da bancada e passavam acelerando e manobrando com muita velocidade do lado das pedras secas. Quanto mais seca fica a maré, mais difícil dropar do pico e passar a sessão, pois a onda corre rápido e fecha em cima da bancada! Achei um pouco difícil encontrar o posicionamento ideal na maré vazante, pois cada vez mais pedras aparecem, o que te obriga a buscar um novo ponto de espera. Além disto, Morro de São Paulo tem muitos surfistas locais. Apesar de serem pacíficos, o crowd acaba prejudicando o surfe no pico do Moleque, pois a onda quebra praticamente sempre no mesmo lugar.

Acabei não pegando muitas ondas e resolvi acordar cedo para surfar no dia seguinte sem o crowd e com a maré mais cheia. No dia seguinte, o mar tinha subido e o crowd ainda não estava no pico. Com a maré mais cheia, as ondas estavam maiores e proporcionavam paredes extensas para manobras. Só tinha um local surfando, o moleque quebrava! Peguei boas ondas nesse dia! Ondas de 1.5m, fortes e para frente… Boas para dar rasgadas e batidas! Maravilha! Conversei com o menino local que estava quebrando, seu nome é Demi, e mais tarde descobri que ele competia e estava arrebentando no circuito amador baiano. Tinha sido campeão mirim em 2007. A onda do Morro lapidou o surfe dele e, se tiver sorte em encontrar um patrocinador, pode ir longe no surfe. Talento e coragem ele tem de sobra!

Dei umas caminhadas pela ilha e conheci as outras praias. A quarta praia é, sem dúvida, a mais bonita! No canto esquerdo há uma saída de rio. A praia é muito longa e a bancada de coral se estende por centenas de metros e lembra muito a Indonésia. As ondas estavam grandes e quebrando bem para dentro do mar, na bancada mais de fora. Não se vê ninguém surfando lá num dia desses. Conversei com os locais para saber se realmente ninguém surfava lá. Disseram-me que só quando as ondas estão com até um metro, pois, maior que isso, a onda fecha e fica perigoso. Corri morro acima para conseguir pegar o pôr-do-sol que é virado para o lado do continente. Fui até o farol, e peguei uma trilha que leva até o pôr-do-sol. De cima do morro, a vista é um espetáculo. Logo em baixo dá para ver a fortaleza, que também é um lugar propício para ver o sol descer, e uma bancada de pedras que forma uma piscina natural de frente para uma outra onda rara que rola no Morro de São Paulo. Mas é necessário que o swell esteja com força para que a onda quebre nessa bancada que proporciona uma direita volumosa e extensa. Não havia ninguém surfando, pois as ondas estavam passando muito perto das pedras.

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