Surfe deluxe

Brasil terá "The Game"

27.7.08

O Brasil vai sediar um evento The Game nos dias 8 e 9 de novembro deste ano. Uma equipe brasileira, formada por uma mescla de surfistas experientes e da nova geração, vai competir contra a equipe dos Estados Unidos. O evento, patrocinado pela Oi, será realizado em Maresias, não no Rio, como informado pelo blog inicialmente. Entre os americanos/havaianos cotados para vir ao Rio, estão Tom Curren, Clay Marzo, Chris Ward e Jamie O'brien.

No evento The Game, criado pelo surfista americano Brad Gerlach, duas equipes com oito surfistas (quatro titulares, dois substitutos e dois reservas) competem entre si. Nas baterias, cada surfista escolhe a sua melhor onda. A soma da melhor onda de cada surfista gera a média da equipe. O jogo, assim como em alguns esportes de quadra, tem dois tempos e muita emoção. Há quem considere o The Game o formato ideal para atrair o interesse da mídia e dos leigos. O formato, aliás, fez sucesso nos X-Games.

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Padang: negligência e impunidade

24.7.08



Padang está fadada a virar porto do barco de Taiwan, que encalhou dias atrás na bancada. O imagem acima, registrada pelo bom fotógrafo brasileiro Ricardo Junji, que mora em Bali, mostra que o barco de Taiwan, que transporta pescado ilegal, já chegou ao costão de pedras.


Se por um lado o barco parece ter saído definitivamente da linha da onda, por outro a sua retirada da bancada ficou ainda mais difícil. Ponto contra para as autoridades de Bali, que não se mobilizaram para rebocar o barco no momento certo nem muito menos para investigar as estranhas causas do acidente. Na ilha, são fortes os boatos de que o encalhe foi sabotagem, já que a Rip Curl usaria o pico na sua etapa Search do WCT.


Em caso de crime, é fundamental conhecer o culpado. A comunidade do surfe não pode tolerar que uma suposta concorrência comercial coloque em risco o meio ambiente e a qualidade das ondas de um pico como Padang.

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Bahia (III): ondas de Mata Atlântica

23.7.08








De cima para baixo: duas vezes Tiririca, Jeribucaçu, Itacarezinho, Prainha e Havaizinho.


Abaixo, o terceiro e último relato do viajante Fredinho no litoral baiano. É a vez do paraíso na Terra chamado Itacaré e suas praias recheadas com Mata Atlântica. Leia abaixo:
Segui viagem mais para o Sul da Bahia: o destino era Itacaré. Estava curioso para conhecer essa cidadezinha que é tão famosa pelas suas ondas e beleza natural. Cheguei na Pituba, bairro ao lado das praias e fui em busca de uma pousada. Fiquei numa das últimas da rua (Pousada Puerto Escondido), para acordar mais perto das praias.

Peguei a prancha e fui checar as ondas - praias do Rezende, da Tiririca, da Costa e da Ribeira. Uma ao lado da outra e de fácil acesso! As ondas estavam bombando, com cerca de um metrão na Tiririca, mas o crowd estava pesado. Boa formação, direitas e esquerdas lisas, abrindo. Fiz algumas fotos e vídeos, e achei que valia mais a pena encarar a trilha para a Prainha. Numa praia mais distante do centrinho, o crowd seria menor e as ondas poderiam estar boas também. A trilha é tranquilha, mas em certos pontos é fácil de se perder, pela falta de sinalização e excesso de bifurcações.

Depois de me perder por alguns minutos, finalmente cheguei à bela Prainha. Que visual! Uma praia com pouco mais de 1 km, repleta de coqueiros verdes e um morro alto no seu canto direito. Lá, foram realizadas etapas do circuito mundial de surfe feminino e do SuperSurf. Apesar de ser abrigada, a Prainha apresentava ondas de 1 metro e séries maiores, um pouco balançadas pelo vento que rolava lá fora, quebrando bem no outside e proporcionando paredes bem formadas e boas para manobras. Devia ter apenas 5 cabeças dentro d’água, e as ondas estavam espalhadas em três diferentes pontos com a maré começando a encher. Comecei surfando mais para o canto direito, aproveitando as ondas quem vinham da direita e algumas esquerdas mais longas que quebravam mais no meio da praia. Ondas boas… fortes e bastante verticais! Fiquei surfando na vala do meio da praia e no finalzinho da tarde migrei para o canto esquerdo onde estavam rolando ondas de pico! Consegui aproveitar bem meu primeiro dia de surfe em Itacaré.

Queria conhecer as praias mais afastadas do centro de Itacaré e, para isto, teria que encarar o ônibus que sai da cidade e circula na rodovia em direção a Ilhéus e Itabuna. No dia seguinte, peguei o tal bus na rodoviária e fui em busca das ondas da região Sul. Saltei próximo à entrada de acesso à praia de Itacarezinho e fui descendo a ladeira. Lá de cima, há um mirante com visão para a praia toda. Itacarezinho é uma praia muito extensa e aberta. Uma larga faixa de areia, muitos coqueiros e um costão de pedras no seu canto esquerdo. A praia é bonita e bem preservada. Dá para notar que a comunidade que trabalha no restaurante local cuida bem do Itacarezinho. Estavam podando e limpando a área do entorno do restaurante. Dava para ver as linhas de ondas de 1 metro entrando no outside e vindo quebrar nos bancos de areia e lajes de pedra, com uma formação irregular, devido ao forte vento Sul que soprava. Lá em baixo, na areia, de frente para o mar, senti que o vento estava muito forte, prejudicando as condições do surfe. As ondas fechavam muito. Resolvi pegar a trilha para a praia da Engenhoca. A trilha é longa, mas a paisagem é de cair o queixo! Para se chegar à Engenhoca partindo da trilha no canto esquerdo do Itacarezinho, você terá que passar por duas outras praias: Camboinha e Havaizinho. Fora de época não há ninguém perambulando por essa região. Caminhei uns 45 minutos e só vi duas vendedoras de côco estrategicamente posicionadas. O trajeto de Camboinha para o Havaizinho é feito por cima de uma pedraria sem fim. A cor do mar fazia um tom degradê de verde escuro (parecendo barro), passando para um verde claro, até chegar ao azul marinho do horizonte. O céu era de um azul profundo com algumas nuvens brancas ao fundo. Coisa de filme! As ondas estavam mexidas e quebrando em cima das lajes de pedras. Será que surfam no Havaizinho? Acho que não daquele jeito!

Tomei uma água de côco e segui a trilha para a Engenhoca. Depois de passar pelo belo costão, me deparei em uma curva da trilha com uma “janela” emoldurada pela mata verde, de onde eu podia ver a praia da Engenhoca, boas ondas rolando e alguns surfistas no pico. Fiquei feliz em ver aquelas ondas, acelerei o passo em direção a praia. Atravessei o riozinho no canto direito e busquei um abrigo para deixar minha mochila. Dentro d’água, já vi um local de Itacaré manobrando bem na onda! A maré estava enchendo e o vento tinha dado uma balançada nas ondas, mas mesmo assim, elas quebravam com boa formação: esquerdas e direitas rolando por toda a praia desde o outside até a beira. As séries estavam constantes, e todos estavam pegando boas ondas! Aos poucos a galera debandou e, no final, ficaram só eu e mais dois outros surfistas.

Foi então que eu conheci os primos Daniel Guedes e Felipe Queiroz, dois bons surfistas paraibanos que me contaram maravilhas da terra de Fabinho Gouveia! Os caras se tornaram verdadeiros brothers e ótimos companheiros de surfe nos dias que se sucederam. Ainda naquela tarde, depois de muitas ondas surfadas, a maré encheu e o mar piorou! Comemos umas frutas e encaramos a trilha de volta até a estrada. Dali, bumba para Itacaré e PF para forrar a barriga dos guerreiros!

O terceiro dia da saga em Itacaré foi reservado a desvendar as belezas da praia de Jeribucaçú, um paraíso natural a alguns quilômetros ao sul de Itacaré. Havia marcado de sair logo cedo com os paraibanos, mas os caras estavam um pouco atrasados e resolvi me adiantar para tentar pegar as ondas ainda sem vento ou com uma leve brisa de terral, que é normal nessa época na Bahia. Surfe lá tem que ser de manhã cedo para pegar glassy. Depois o terral sopra até às 10h. Corri até a rodoviária e acabei pegando o buzum das 8h. Desci próximo à entrada da trilha e fui perguntando por onde era o caminho. Não há sinalização alguma, e muito menos alguém circulando por ali! Finalmente entrei na trilha depois de atravessar pelo meio de uma porteira. Foi aí que começou a odisséia para se chegar ao paraíso! A trilha é pesada e bastante longa, com muitas subidas íngremes. Parece até que você nunca vai chegar. Em uma certa parte da trilha, você consegue avistar lá em baixo um pedacinho do costão no canto direto da praia.

A chegada é deslumbrante! Um mangue largo onde desemboca um rio de água límpida e transparente em direção ao mar… A praia estava deserta e a maré, ainda seca. O vento ainda passava por fora, ao longo da praia, e quebravam ondas com cerca de um metro quebravam certinhas no banco de areia. Larguei a mochila no pé de um coqueiro e corri para dentro d’água. Surfar sozinho numa praia linda como aquela e afastada da civilização é uma benção de Deus! Aproveitei bem aqueles momentos de paz e surfei aquelas ondas rápidas que quebravam para os 2 lados. A visão de dentro d’água era gratificante! Ondas lisas quebrando sozinhas, cercadas por um morro repleto de coqueiros e um costão verde de Mata Atlântica.

Algum tempo depois, a dupla paraibana sai de dentro do mangue (vieram por outro caminho) e se junta a mim para desfrutar daquele paraíso! Nós três ficamos ali, surfando e contemplando aquela beleza toda da Praia de Jeribucaçú. Apesar de curtas, as ondas tinham força! Nós nos perguntávamos uns aos outros: “Já pensou essa praia recebendo um swell forte num dia de terral?” Pelo que ouvimos dos locais de Itacaré, Jeribucaçu é uma das praias mais constantes e que atura ondulações grandes na região. Ao longo do dia, a maré foi enchendo e o vento maral ficando mais forte, estragando a formação das ondas. Saímos do mar para comer algo e repor as energias. A segunda sessão de surfe não rendeu muito para mim, pois a onda já estava gorda e sem força.

Resolvemos nos adiantar, pois a trilha nos aguardava. Caminhada forte, com direto a um belo pôr-do-sol na estrada. À noite, matamos outro PF junto com Pedrinho Gouveia, também surfista paraibano, amigo dos primos, que estava de passagem em Itacaré, indo para São Paulo de carro com os pais, onde pegaria um vôo para a Austrália. O moleque tem 18 anos e vai morar e estudar alguns meses na Gold Coast. Arriscamos uma noitada num barzinho chamado “Quintal”, mas tava devagar. Só jogamos sinuca.

Infelizmente, meu último dia de viagem tinha chegado! Era chegada a hora de surfar na Tiririca. Passei na pousada dos paraibanos, e fomos todos para a praia. Descemos pela Praia do Rezende, e já era possível avistar boas ondas rolando na Tiririca - um metro com séries maiores! As ondas estavam lisas, sem vento algum, e o crowd ainda era pequeno! Fiz algumas fotos e vídeos e entramos para surfar. De cara, já vi um dos locais tirando um tubão seco numa direita com tamanho! Rolavam uns drops verticais, e a onda proporcionava uma parede perfeita para executar qualquer manobra. A Tiririca apresenta três picos distintos: canto direito, canto esquerdo e meio. A ondulação vinha de Leste e ficava jogando pra cima do costão de pedras para o lado da Praia da Costa. No início, com a maré mais seca, as séries bombavam constantemente, e todos estavam se divertindo naquele playground do surfe. Ondas pesadas e perfeitas! Tem uma galera que quebra mesmo por lá! É uma praia perfeita para captar imagens de surfe. Após uma chuva forte e com a maré enchendo, o mar abaixou e fomos obrigados a sair da água. Mas o surfe valeu!

No fim do dia, peguei o bus para Ilhéus e mofei no aeroporto até a hora do vôo corujão para o Rio. A viagem foi um sucesso. A Bahia é show de surfe! Gostei muito de cada lugarzinho por onde passei! Desde já, começo a planejar uma futura surftrip baiana no intuito de conhecer a cultura local, outras praias, pessoas e ondas que ainda não surfei.

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Bahia (II): um morro e várias ondas

21.7.08



Na ordem, pôr-do-sol obrigatório em Morro de SP, Point do Moleque e Quarta Praia



Fredinho Schmidt segue o relato da viagem ao litoral baiano. Desta vez, o destino é o Morro de São Paulo. Amanhã, Surfe Deluxe publica o texto sobre o último destino da surftrip: Itacaré. Leia abaixo o diário do Fredinho sobre as ondas e a vida em Morro.
Meu irmão teve que retornar ao Rio para trabalhar e, a partir daí, eu estaria sozinho. De Salvador, peguei o catamarã que faz a linha para Morro de São Paulo e parte do terminal náutico que fica próximo ao Mercado Modelo. Uma embarcação enorme de casco duplo, com capacidade para dezenas de pessoas. É um passeio belíssimo, onde é possível admirar a paisagem de Salvador, da Ilha de Itaparica e finalmente a chegada em Morro de São Paulo. O tempo fechou durante o trajeto e caiu um chuvisco. A viagem dura em média 1h40m de catamarã. A chegada em Morro de São Paulo me motivou, pois dava para sentir a enorme embarcação surfando as vagas que passavam por nós em direção à ilha. Mais de perto pude avistar a espuma branca ao lado das pedras que demarcam o principal pico de surfe de lá, o pico do Moleque. Percebi que havia ondas, mas não conseguia vê-las pela distância. Fiquei ansioso para chegar logo e ir surfar.

Depois de desembarcar e pagar a taxa de preservação (R$ 6.50), fui procurar uma pousada para me instalar. No meio do caminho, caiu um dilúvio. Achava que ainda estava um pouco longe da praia e resolvi descer o morro. Acabei me instalando numa pousada simples na segunda praia, era mais perto do pico.

Peguei a prancha e fui para dentro d’água. A maré estava secando e, na entrada, passei remando por cima de uma fina lâmina d’água, por cima das pedras. Remando para o outside, pude ver um surfista vindo em uma onda lá fora. A bancada de coral é bastante extensa e as ondas quebram com uma formação perfeita e muita força. A onda é uma direita que funciona com ondulação de leste e precisa de um swell de grande intensidade. Caso contrário, o swell não encaixa na bancada e a onda não quebra. A visão de dentro d’água é alucinante. Para um lado, você consegue ver a primeira praia e o morro coberto de casas; mais para a ponta, o morro do farol e sua tirolesa; e, para o outro lado, as pedras do point do Moleque, a segunda praia e a Ilha da Saudade. A onda vem desenrolando desde as pedras do point e vai abrindo em direção a praia, percorrendo uma longa extensão. Com a maré secando, ela se torna rápida e com uma sessão tubular. É preciso tomar cuidado com as pedras na hora do drop e no percurso da onda, pois à medida que a maré vai baixando, as “cabeças de nêgo” vão aflorando e tornando o surf mais perigoso e difícil. Às vezes, você está sentado na prancha e quando a onda vem, a ponta da pedra aparece e dá aquela sugada!

Vi os locais surfando bem por lá! Os melhores dropavam as maiores mais para dentro da bancada e passavam acelerando e manobrando com muita velocidade do lado das pedras secas. Quanto mais seca fica a maré, mais difícil dropar do pico e passar a sessão, pois a onda corre rápido e fecha em cima da bancada! Achei um pouco difícil encontrar o posicionamento ideal na maré vazante, pois cada vez mais pedras aparecem, o que te obriga a buscar um novo ponto de espera. Além disto, Morro de São Paulo tem muitos surfistas locais. Apesar de serem pacíficos, o crowd acaba prejudicando o surfe no pico do Moleque, pois a onda quebra praticamente sempre no mesmo lugar.

Acabei não pegando muitas ondas e resolvi acordar cedo para surfar no dia seguinte sem o crowd e com a maré mais cheia. No dia seguinte, o mar tinha subido e o crowd ainda não estava no pico. Com a maré mais cheia, as ondas estavam maiores e proporcionavam paredes extensas para manobras. Só tinha um local surfando, o moleque quebrava! Peguei boas ondas nesse dia! Ondas de 1.5m, fortes e para frente… Boas para dar rasgadas e batidas! Maravilha! Conversei com o menino local que estava quebrando, seu nome é Demi, e mais tarde descobri que ele competia e estava arrebentando no circuito amador baiano. Tinha sido campeão mirim em 2007. A onda do Morro lapidou o surfe dele e, se tiver sorte em encontrar um patrocinador, pode ir longe no surfe. Talento e coragem ele tem de sobra!

Dei umas caminhadas pela ilha e conheci as outras praias. A quarta praia é, sem dúvida, a mais bonita! No canto esquerdo há uma saída de rio. A praia é muito longa e a bancada de coral se estende por centenas de metros e lembra muito a Indonésia. As ondas estavam grandes e quebrando bem para dentro do mar, na bancada mais de fora. Não se vê ninguém surfando lá num dia desses. Conversei com os locais para saber se realmente ninguém surfava lá. Disseram-me que só quando as ondas estão com até um metro, pois, maior que isso, a onda fecha e fica perigoso. Corri morro acima para conseguir pegar o pôr-do-sol que é virado para o lado do continente. Fui até o farol, e peguei uma trilha que leva até o pôr-do-sol. De cima do morro, a vista é um espetáculo. Logo em baixo dá para ver a fortaleza, que também é um lugar propício para ver o sol descer, e uma bancada de pedras que forma uma piscina natural de frente para uma outra onda rara que rola no Morro de São Paulo. Mas é necessário que o swell esteja com força para que a onda quebre nessa bancada que proporciona uma direita volumosa e extensa. Não havia ninguém surfando, pois as ondas estavam passando muito perto das pedras.

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Diário de amador: Bahia 08

20.7.08

Esquerdas sem crowd na Praia do Forte

Praia do Forte, cenário também para viagens sem prancha

Fredinho surfando num secret da Bahia
Fred Schmidt, colaborador super especial do blog, viajou novamente atrás das ondas. Desta vez, o destino foi o litoral baiano - das ondas da capital às praias adornadas de Mata Atlântica em Itacaré. O Surfe Deluxe publica durante esta semana os relatos da trip do surfista e administrador. Confira abaixo o primeiro texto, sobre a capital e a Praia do Forte.
Como eu tinha alguns dias de férias para tirar, aproveitei um convite de um primo baiano para visitar parte da família durante o feriado de Corpus Christi e encaixar as férias logo em seguida. Há algum tempo eu estava com vontade de desbravar o litoral baiano em busca das boas ondas que rolam por lá na temporada certa. Acabei dando sorte com a entrada de um bom swell do quadrante sul/sudeste, com variação de leste, que proporcionou ondas consistentes e de tamanhos variados. Foi nessa mesma época que as ondas ficaram realmente grandes em picos como Itapoã e Aleluia, praias famosas a cerca de 25 quilômetros ao norte do centro de Salvador.

Estava retornando ao surfe, após um período de um mês fora d’água por conta de um corte de quilha no meu pé esquerdo e, por isso, preferi ter cautela na escolha dos mares. Já havia estado antes naquela mesma praia (na região próxima ao aeroporto) onde meu primo tem casa, mas nunca tinha visto as ondas com tal intensidade e força. Séries com ondas de 2 metros (direitas principalmente) varriam desde o outside até o quebra-côco, com um vento forte que soprava paralelo à praia. No meu primeiro dia, preferi surfar uma onda mais fun e cheia na outra ponta da praia. A onda é uma esquerda que quebra no outside em um fundo de pedras e vai abrindo até a praia na maré certa. Estava acompanhado do meu irmão Guilherme, que é windsurfista, mas também se arrisca nas ondas do surfe em seu funboard.

Por ser baixa estação, início de semana e relativamente distante de Salvador (40km), era raro se ver outros surfistas naquela região. Por um lado era ótimo, pois não havia crowd, porém, naquela condição de ondulação, e para quem nunca surfou por aquelas bandas, ficava faltando uma referência para se saber onde realmente são os picos de surfe e quais são os melhores lugares para se entrar e sair da água, devido a enorme quantidade de pedras espalhadas na maioria das praias. Em uma outra sessão de surfe na mesma praia, acabei entrando sozinho num mar pouco amistoso, com ondas de 2 metros quebrando bem no outside e com um inside repleto de pedras. Acabei tomando algumas bombas na cabeça até me localizar no pico, para só então pegar 2 direitas volumosas. A onda lá é forte e rápida. Ela abre um bom braço para manobras. Além dessa direita mais na ponta da praia, existe um beach break onde a onda quebra para os dois lados.

O litoral da Bahia é bastante recortado, alternando entre longos trechos retos, pequenas baías e diversas saídas de rios, além de apresentar em quase toda sua extensão praias com formações rochosas, com fundos de coral ou simplesmente pedras. Basta você procurar um pouco que você encontrará praias que irão lhe proporcionar ondas incríveis!

Tiramos um dia para ir até a Praia do Forte, um lugar lindo e com boa estrutura para receber os visitantes. Hotéis, pousadas, restaurantes de culinária baiana e internacional, bares como o famoso Sousa, comércios de souvenir e agências de turismo estão espalhados por todos os lados. No passado era apenas uma simples vila de pescadores e que com o passar dos anos, ficou mundialmente famosa pelas suas belezas naturais, intensa vida marinha, e noturna também, atraindo brasileiros e gringos de todas as partes do planeta. Mas o que mais atrai no Forte são as praias, que são de uma beleza singular. As águas cristalinas e corais se estendem por uma vasta área, que proporcionam o surgimento de piscinas naturais na maré baixa, onde se pode apreciar as belezas do mundo submarino com um equipamento básico de mergulho, além é claro, surfar ondas de qualidade internacional.

A Praia do Forte abriga uma das principais sedes do Projeto Tamar. Visitamos o Tamar, que fica localizado na praia, em frente às piscinas naturais. Lá é possível observar e aprender um pouco sobre as 5 espécies de tartarugas que ocorrem na costa brasileira, além de tubarões lambarus, peixes de diversas espécies, arraias e moréias. Depois de uma forte chuva com vento maral, caminhamos até um dos picos de surfe da Praia do Forte. Este pico é conhecido como Papa-gente, e lá rolam duas ondas: uma esquerda e uma direita que correm em direção a uma pedraria que fica no meio dos dois picos. As ondas estavam pesadas e levemente balançadas, com cerca de 1 metro e às vezes maiores, porém com muita força e quebrando violentamente sobre a bancada de corais. Resolvi surfar a esquerda e acabei não pegando muitas ondas. De dentro d’água vi que a direita estava com melhor formação, mas havia um certo crowd de surfistas locais que dominavam a onda. Vi a galera detonando nas manobras - batidas, rasgadas, rabetadas, aéreos! É impressionante como os surfistas baianos têm facilidade em lidar com as bancadas de corais e “cabeças-de-nego” (pedras e corais que afloram na frente das ondas na maré vazante).

Não tivemos muito tempo para explorar as ondas da Praia do Forte, mas sei que, nas condições ideais, a formação chega a lembrar a Indonésia. Ondas lisas, rápidas e tubulares. Não é à toa que a Billabong decidiu realizar pela primeira vez uma etapa do WQS (Billabong Surf Eco Festival) nas ondas da Praia do Forte. Chegamos a ver diversos banners do campeonato que teve seu início oficial no dia 16 de junho e terminou no dia 22, com uma final entre dois excelentes surfistas brasileiros: Adriano Mineirinho e Marcelo Trekinho. Apesar da torcida pelo Trekinho, meu vizinho da rua e local hero do Pontão do Leblon, o Mineirinho acabou vencendo com muita radicalidade e confirmando sua ótima fase no circuito mundial. Parabéns para ele, que está surfando muito em todas as condições de ondas!

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Ondas de dinheiro

Dica do amigo Bruno Badia: a Toledo Associados divulgou no Festiv'Alma 2008 uma pesquisa sobre o surfe brasileiro. Depois de ouvir 281 compradores de surfwear e 20 proprietários de lojas e diretores comerciais, o instituto chegou a conclusão que há 1,1 milhão de simpatizantes e surfistas apenas em São Paulo. Atualmente, segundo a Toledo, o mercado surfwear movimenta R$ 5 bilhões por ano em mais de três mil pontos de venda espalhados pelo país. A pesquisa aponta ainda um crescimento de 100% do mercado nos últimos cinco anos. Cabe a provocação: qual o percentual de aumento do salários dos surfistas e das premiações dos eventos durante o mesmo período?

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Eraldo, o dono do stand up paddle

12.7.08



Eraldo dá aula de stand up nos tubos da reserva.
(Fotos de Alvinho Duarte e Julia Worcman)

Não há como evitar, o stand up paddle avança pela costa carioca. É o surfe em pranchas de até quatro metros, que utiliza um remo como meio de propulsão. A modalidade já tem um dono: Eraldo Gueiros. Fiz matéria sobre o assunto para O Globo (leia aqui a matéria do online ou na edição deste domingo do jornal). Numa sessão de fotos realizada na última quarta, na Praia do Pepê, Eraldo era o peixe dentro d'água, parecia ter sido feito para aquele brinquedo. Não se assustem se o cara, que é um dos melhores do mundo no tow in, começar a se destacar também nas competições de ondas grandes de SUP (sigla do stand up paddle) que já rolam no Havaí. Detalhe: enquanto a massa ainda usa pranchas de 11, 12 pés, ele tá com uma 8,6.

Mas, se a modalidade crescer mesmo, o crowd carioca terá que ficar esperto. O surfista de stand up pode esperar a série atrás dos longboarders. Dentro d'água, graças ao luxuoso auxílio do remo, é a prancha com maior propulsão para entrar na onda. Ao mesmo tempo, o volume do equipamento é um ameaça aos outros surfistas e ao próprio sup surfer. O impacto de uma tora que pode chegar a quatro metros e pesar 12 quilos causa estragos. Isso sem falar do remo.

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Imagens do diário: Bali 08








Acima, as imagens do diário do surfista e administrador André Somaglino este ano em Bali.
Leia aqui o relato da viagem.
Legendas:
1) O maior tesouro da ilha
2) Mercado de peixes frescos
3) Os barcos típicos
4) As crianças da ilha hindu
5) A paisagem mais comum de Bali: plantação de arroz

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Aprenda a surfar em uma onda

9.7.08

Tom Curren jamais inovou em aéreos, reverses e outras manobras de efeito. Mas, em apenas uma onda num dia qualquer de Lower Trestles, ensina aos mortais como surfar muito sem fazer força nem presepada.


Vai lá no related videos, nos ícones à direita: http://mainland.freewavechallenge.net/index.php

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Diário de um amador: Bali 08


A sessão diário de um amador publica hoje os escritos do administrador e surfista André Somaglino. O cara passou os últimos dez anos indo para a Indonésia sempre que sobrava tempo e dinheiro. Na última viagem, voltou ao início de tudo: fez a básica surftrip para Bali, só para Bali. Soma apresenta o céu e o inferno da ilha hindú, com direito a pico secreto e tudo. Segue o relato:
Bali continua mágica. Essa foi a constatação que eu pude tirar da viagem. Mas não se engane: ser mágico não significa ser simples. Desde a primeira vez que estive em Bali, as coisas mudaram muito. Em 1994, chegar em Uluwatu era uma aventura. Hoje, é um pico quase urbano.

No passado, tive a oportunidade de ver alguns bons surfistas de fundo de areia não se encontrarem nas bancadas de Bali. A adrenalina do lugar e a energia da ilha Hindu levava os caras a um tipo de miopia, como se eles não enxergassem ondas na frente deles. Era comum também presenciar finais de tarde com 2 ou 3 cabeças na água, em ondas perfeitas. Eu ficava do alto do morro, sem pressa de cair, vendo-as brincando de se esconder nas placas perigosíssimas de Ulu. Não poderia imaginar que eu estava vivendo uma coisa única, um momento que dificilmente iria se repetir.

Com o passar dos anos, fui cada vez mais me afastando de Bali. Aquele era, com certeza, o lugar onde eu pegava menos ondas. Tinha a clara impressão de que o número de pessoas e o desenvolvimento da ilha não me deixariam surfar ondas como no passado. Bali, então, se tornou um lugar de passagem, de acesso a outras ilhas e ondas.

Maio de 2008. Programo mais uma vez uma viagem para a Indonésia e, depois de muitos anos, decidi dar uma nova chance a Bali. A ilha seria novamente o meu destino único na Indonésia. Eu acharia um jeito de curtir ao máximo e tirar proveito do que me fosse presenteado pela ilha.

Cheguei na ilha dia 13 de maio com uma boa ondulação a caminho: 2,9 metros com 16 segundos. Primeira bateria em Canguu, que cá entre nós é muito perfeito. Excelentes diretas, ondas de um metro e meio com bastante parede, boas para arregaçar com a prancha maroleira. Canguu é a onda de sonho para manobras, tudo dá certo naquela onda. Tinha esquecido disso, já que a última queda em Canguu fora em 1998...
No dia seguinte, a tal ondulação tinha chegado. Parti para uma bancada que achava ser meio lenda, que eu escutei falar por 14 anos, mas jamais tinha visto quebrar de verdade. Da praia, o visual era incrível: ondas de um metro e meio, dois na série, correndo por uma grande bancada de coral, talvez por uns 400 metros - o equivalente a umas três ou quatro vezes do Pontão do Leblon até o Posto 12. Escolhi minha 6,4 com uma quilha maior.

Vi um surfista saindo do mar e fui falar com ele:
- Pode me dar uma dica de como entrar?
- Rema de frente para a onda, que a correnteza joga lá no canal.
- Tá bom? (Realmente o pico era longe e cabia a pergunta)
- O negócio lá fora tá incrível. Moro no Havaí e posso te dizer que tá muito divertido lá fora.
- Então por que você tá indo embora? Tá grande?

- Dois pés havaianos por trás, não tá grande, mas tá ficando muito raso e perigoso. Tá vendo aquela pedra para fora? Quando ela sair inteira, tome muito cuidado com a sessão.

Joguei-me no mar, e procurei não pensar em tubarão nem no possível cansaço da remada até o pico. Fiquei mastigando as últimas palavras do havaiano: “dois pés” e “raso”. Temos todo tipo de surfista neste mundo, aquele tinha medo de onda rasa. Outra coisa: dois pés era a mãe dele!

A correnteza me jogou cem metros depois do fim da onda, e tive que remar uns trezentos metros vendo altas ondas comendo na bancada. O desempenho dos locais era inacreditável. Lá fora tudo mudou! Um mar turquesa, condições espelho, sem um pingo fora do lugar, ondas de quase dois metros que primeiro faziam um pico por trás, bem difícil de interpretar e conectar, mas se você passasse a primeira sessão, bem, depois a onda acertava na bancada e o que vi foram tubos rasos e cinematográficos. Talvez a sessão de onda mais harmônica que já surfei na vida: tudo no lugar.

Foram 14 anos sonhando com isso.

No dia seguinte, ulus – ulus – ulus. Finalmente fui a Uluwatu. É um lugar que emociona. Hoje Ulu tem estacionamento, hotel em cima do costão, e ficou meio sujo. É o crescimento não planejado, triste mesmo. Mesmo assim, Ulu mantém sua energia incrível. Tem onda todo dia e, quando acerta, é umas das melhores ondas da Indonésia. Isso que eu estava precisando redescobrir. A tal miopia, ou pessimismo, sei lá, tinha me pegado também. Eu não acreditava mais nas ondas de Uluwatu. Entrava no mar pensando no crowd, no hotel, nem parava para entender onde eu estava: o tubo continua ali, no mesmo lugar.

Peguei ainda um dia numa outra onda que foi incrível, com tubos e mais tubos de um metro e meio perfeitos. Essa onda tem sido muito fotografada. Apesar de tudo que se fala, surfei duas ondas novas, reencontrei outras do passado e redescobri o prazer de surfar Uluwatu. O crescimento de Bali está além da minha compreensão, não acredito no crescimento econômico como melhoria de vida.

Tenho tristeza ao ver o que está acontecendo em Bali, mas isso não me impede de ver o que há de melhor naquela ilha e, de certa forma, agradecer por tudo através deste relato. Obrigado Bali e às pessoas que me aproximam deste lugar.

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Tiúba em cores

3.7.08


Fotos de Tony D'andrea (surfe) e Gustavo Cabelo

Elisio Tiúba nasceu em Salvador, mas sua certidão foi expedida no Pontão do Leblon. Verve de artista, ele se inspirou nas curvas do surfe para colorir telas brancas, pranchas e outros espaços disponíveis. Melhor assim: livrou-se da pecha de vagabundo com notas ruins na escola para se tornar autor de um trabalho fluído, expressivo, que ganha destaque em exposições convencionais, em pranchas espalhadas na praia, em t-shirts e até no documentário Indo.doc.

Surfe Deluxe fez uma pá de perguntas via e-mail ao Tiúba. Queria saber mais sobre a arte desse surfista de 25 anos, coisa difícil de explicar em respostas eletrônicas. O cara não puxou o bico: "A forma como pinto ou desenho muitas vezes está ligada aos movimentos que faço surfando, e também à maneira como enxergo o mar e suas variações. Utilizo, ainda, diferentes técnicas de representação, adquiridas graças ao meu interesse pela arquitetura."

E o que o surfe tem a ver com isso? "Surfar é como desenhar sobre as ondas. É uma arte mais do que efêmera, pois em poucos segundos uma bela linha vira espuma e, em seguida, boas lembranças". Bom motivo para Tiúba enxergar Bruninho Santos, Marcelo Trekinho e Marcos Sifú como artistas das ondas. "Ele se expressam de modo completamente diferente. A diferença está na forma como o surfista lê a onda, se movimenta, se expressa."

Antes que um apressado enquadre Tiúba num estereótipo do artista-surfista monotemático, vendido em feiras a um real, ele rabisca na tela a seguinte mensagem: "A vida é muito complexa para ter apenas uma fonte de inspiração. Não quero ser como (o americano Robert) Wyland ou o (havaiano Christian) Lassen, que depois de descobrirem que pintar ondinha perfeita, golfinho e tartaruguinha era legal, não fizeram mais outra coisa. Isso não faz muito sentido para mim. Gosto de correr riscos, de viajar, de conhecer grandes cidades."

Tiúba ainda não vive de sua arte. E se assusta com a possibilidade de encarar o seu dom como um ofício. "Acostumei-me a ver trabalhos artísticos perderem a qualidade por causa do próprio dinheiro, fui claro? É complicado! Ainda não aprendi a calcular o valor dos meus sonhos, e se for preciso trabalharei em outras áreas para continuar realizando-os. É como alguns surfistas, que depois de se profissionalizarem, esquecem da diversão e do prazer que o surfe proporciona, e começam a se cobrar, se frustrar e sofrer em busca de resultados." E encerra, com um desejo: "Não quero que a arte se torne uma obrigação na minha vida."

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