Surfe deluxe

Opinião: os 12 trabalhos de Bruno

15.5.08

Em todos os tamanhos de Teahupoo, o pequeno Bruno é um gigante. Foto: ASP Kirstin


A aposta do blog vingou: deu Bruninho Santos na cabeça em Teahupoo. O pequeno garoto prodígio entrou na água 12 vezes, entre as triagens e o evento principal, para carimbar definitivamente seu nome no caderno dos melhores surfistas de tubo do mundo da atualidade. O título lhe dá um prestígio inédito entre brasileiros no tour: o de surfista que realmente intimida campeões mundiais nas melhores ondas do planeta.

Tava pequeno? Nenhum gringo escaldado vai levantar a voz para dizer que ele só ganhou porque, no último dia de prova, Teahupoo assustava tanto quanto Ipanema. Todos sabem que Bruninho é ainda melhor em massas d'água pesadas. Já tinha provado o talento nas bombas da triagem. Pela enésima vez.

Bruninho perdeu quando era possível perder - na final das triagens, para Jamie O'brien, e na primeira bateria do main event, quando ainda pegava o pé do tubo, depois de alguns dias de molho por conta de uma contusão.

Somou placares baixos quando seus adversários fraquejaram ainda mais: em sua primeira bateria das triagens, contra Williams Heiiarii, Jamie Sterling e Wakita Takayushi; na repescagem do evento principal, contra Mick Fanning; nas quartas, contra Mineiro; e na inesquecível final, contra Manoa Drollet.

Agora, o mais importante: alcançou somatórios superiores a 14 pontos em oito das 12 baterias que disputou - deste universo, em quatro oportunidades fez mais de 17 pontos. A intenção não é humilhar, mas a comparação é pertinente: o colega compatriota Jihad Khodr somou (isso mesmo, somou) 3,16 na primeira fase e 5,53 na respescagem, quando foi eliminado. A diferença mostra a importância das horas gastas por Bruninho na busca obsessiva do treino em tubos e, ao mesmo tempo, a necessidade preemente de Jihad, que é bom surfista em outras ondas, treinar em cenários semelhantes aos que vai encontrar no WCT. Treinar muito.

Bruninho emplacou duas notas 10. Talvez pudesse ter alcançado mais scores perfeitos se fosse um americano ou australiano com título mundial na bagagem, mas isso definitivamente é do jogo. A diferença do campeão não foram os tubos de nota máxima, e sim a espantosa quantidade de ondas superiores a 8,5 nas mais variadas condições de mar. Bruno parece ter aprendido que a regularidade faz parte do show. E é o melhor remédio contra eventuais equívocos dos juízes.

Léo Neves mostrou o seu já conhecido poder com uma nota 10, apesar da eliminação para Bruce Irons. Heitor Alves surpreendeu no primeiro ano de Taiti com um 9,77. Tiago Pires, outro estreante, também cravou um 10. E Bruninho, abençoado pela regularidade, venceu mesmo sem figurar na lista dos autores das dez maiores notas e dos dez maiores somatórios da etapa.

Adriano Mineirinho merece mais que uma nota. É, com sobras, o melhor surfista brasileiro no tour. Perdeu para Bruninho numa bateria sem vencedores. Assim como o rival, ele parece ter assimilado a importância da regularidade nas notas altas. A grande virada, contudo, Mineiro deu quando reconheceu suas deficiências em ondas exigentes como as do Taiti. Correu atrás e, este ano, mostrou uma absurda evolução. Sua posição na prancha - de costas para a onda e com a mão na borda - parece ter encaixado definitivamente. Acelerou e atrasou quando foi preciso, sempre com bastante precisão e suavidade. Seus novos truques talvez ainda não sejam considerados uma prova definitiva de avanço porque as maiores bombas de Teahupoo - as que assustam mesmo - não despontaram no horizonte. Mas, é certo, servem como um precioso indicativo.

Não falei de Slater, nem é preciso. Ele não parecia interessado no evento.

Tive um especial interesse de ver a tal bateria dos dez futuros títulos mundiais: Jordy Smith x Dane Reynolds. O CT é mesmo muito difícil para estreantes, né Jordy? O sul-africano mostrou menos intimidade com o Taiti que supostos especialistas em beach break, como Heitor Alves, e expôs ao mundo sua primeira deficiência real: o posicionamento em tubos para a direita, pelo menos em competições. Em vídeos promocionais, não adianta mostrar serviço. Dane apresentou, ao menos nesta bateria, o contrário: entubou com jeito, fez ótima escolha de ondas e mostrou disposição para subverter padrões, ao tirar um tubo para a direita na bancada de Teahupoo. Meteu o sul-africano em combinação, sem piedade: 18 a 12.

Os deuses de Teahupoo só acordaram quando viram o americano dropar a segunda para a direita. Mandaram-lhe um enorme buquê com 12 ondas da série na cabeça, bem na parte mais rasa da bancada, na zona de impacto. Água na canela. Dane vai pensar duas vezes no próximo braço para a direita que pintar naquelas águas.
Só para finalizar com uma do Bruninho: o garoto surfou as últimas baterias com uma prancha emprestada pelo jornalista israelense encarregado de transmitir o evento em hebraico. Os foguetes do Joca costumam ajudá-lo, mas ontem ele ganharia com uma tábua de passar roupa.

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