Surfe deluxe

Entrevista: Bede Durbidge

28.4.08


Bede em Bells, atrás apenas do mito. Foto: ASP Robertson © Covered Images

Bede Durbidge, 25, tem um jeito tão simples, tão tranqüilo, que poderia ser barrado na área de competidores numa dessas etapas do WCT cheia de seguranças e pulseirinhas. Chegou à elite em 2005 pela porta dos fundos, depois de um magro décimo quarto lugar no QS do ano anterior. Já começavam a desconfiar do talento do australiano de Queenland quando ele eliminou Kelly Slater logo no evento número dois da temporada. Mas o ano sem outros resultados expressivos o tirou da elite. Protegido pelo acaso, acabou voltando na vaga de Richie Lovett, que ficou doente.

Desde então, resolveu mostrar como se faz para apagar as estrelas do tour sem ficar chamuscado. Em 2006, venceu sua primeira etapa do WCT, em Trestles, e foi chamado pela Surfer de "assassino gentil" por causa de seu estilo low profile. Terminou o ano em décimo quinto na elite, com gosto de quero mais. Em 2007, com a vitória do Pipe Masters (que lhe rendeu ainda o título da Tríplice Coroa) escalou definitivamente o ranking, chegando em quinto na temporada.

Mesmo com o posto de top 5 em 2007, pouca gente ainda apostava no cara como estrela do tour antes de soar a primeira sirene na Austrália. Ele prefere assim: passadas as duas etapas na Austrália, Bede calou a boca dos críticos sem dizer só uma palavra: uma semifinal em Snapper e uma final em Bells. Na frente dele, só Kelly Slater. O americano diz o seguinte sobre Bede: "Ele parece ser um surfista experiente do tour, não mostra suas emoções quando está surfando. Você não o vê muito frustrado ou muito excitado. Ele é muito calmo, faz o seu trabalho."

Bede mede 1,85m, o que faz dele um dos líderes da nova geração de surfistas altos do tour. O tamanho não o impede de soltar aéreos e executar manobras modernas mesmo em ondas pequenas. É um surfista cheio de atributos mas, pelo menos até agora, a mídia insiste em não apostar muitas fichas nele. Como Surfe Deluxe acha que os leitores querem saber o que pensa o vice-líder da elite, seja ele um Bede, um Andy ou um Mick, seja patrocinado pela Mada ou pela Billabong, correu atrás de uma entrevista exclusiva com o australiano.

Entre outras coisas, ele diz que a desconfiança da mídia é boa por tirar a pressão por resultados, lembra das dívidas acumuladas ano passado antes de conseguir um patrocínio e elege Mineirinho como o melhor surfista brasileiro.

SD - Neste momento, você é o cara atrás de Slater, lutando pela liderança. A vice-liderança logo no início da temporada, com tantas estrelas na disputa, te surpreendeu?
Bede - É muito bom estar apenas uma posição atrás do líder. Eu treinei forte antes da temporada e senti que o meu surfe evoluiu bastante, se comparado com o ano passado. Por isso, sabia que tinha boas chances de me dar bem.

SD - A Surfer já chamou você de "gentil assassino", em referência ao seu estilo low profile. Você ainda se sente como aquele cara que eventualmente pode destruir as estrelas? Ou já se considera parte do grupo seleto dos candidatos a títulos no WCT?
Bede - Não me sinto mais um eventual vencedor porque estou no meu quarto ano de circuito. Sinto que ganho força e velocidade (em inglês, "momentum") a cada ano. A mídia ainda me vê como um perdedor, mas não ligo. Isso significa apenas menos pressão em mim.

SD - Em seu melhor ano de WQS, você terminou em décimo quarto lugar. Agora, é o vice-líder do WCT. Você não acha que o WQS deixou de ser um bom parâmetro para julgar a qualidade real de um surfista da elite?
Bede - Há muita diferença entre o WQS e o WCT, a começar pela bateria de quatro contra a bateria homem a homem. E, claro, as ondas no CT são muito melhores. Portanto, você não pode avaliar os futuros resultados de um surfista na elite apenas pelo seu desempenho no WQS.

SD - O que mudou desde 2006, quando você começou a vencer no WCT?
Bede - A vitória definitivamente me deu muito mais confiança, por saber que eu posso, sim, bater aqueles que são considerados melhores do mundo.

SD - As pessoas sempre dizem que você é uma pessoa calma. Você acredita ser esse o segredo do seu sucesso? Você pratica alguma atividade para se manter sereno na competição?
Bede - Não... Sou assim mesmo. Faço tudo de uma maneira relaxada, não deixo as coisas me incomodarem muito e me mantenho focado no trabalho que tenho adiante. Definitivamente esse é um dos meus diferenciais, que fazem me manter concentrado na bateria.

SD - Você gastou o seu dinheiro na primeira parte da temporada de 2007 nas viagens por falta de patrocinador. O que você fez para sobreviver no tour. Contraiu dívidas?
Bede - Foi realmente muito difícil fazer o tour ano passado sem patrocinador. Peguei emprestado US$ 50 mil além de hipotecar a minha casa para poder correr o WCT. Eu consegui passar por isso e agora consegui alguns excelentes novos patrocinadores. Assinei com a Mada (surfwear) em setembro do ano passado, o que aliviou financeiramente.

SD - Qual o seu surfista brasileiro favorito?
Bede - Adriano. Ele surfa bem e, além disso, tem mostrado uma evolução rápida de um ano para o outro.

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