Surfe deluxe

"Quero pegar ondas de 70 pés"

18.1.08

Maya no Taiti. Foto: divulgação Red Bull

Maya está na moda. Já seria assim se ela fosse apenas uma boa surfista. Mas a moça, de 20 anos, ainda é gatinha, filha do Gabeira - um dos poucos políticos brasileiros que se atrevem a lanchar numa casa de sucos em Ipanema sem medo de ser vaiado - e da estilista Yamê Reis e, por último mas não menos importante, dona de uma coragem rara mesmo entre os carregados de testosterona.

Ano passado, antes das vacas e tubos do Taiti, fiz um perfil dela para a Revista do Globo. No espaço sempre limitado dos impressos, boa parte da entrevista ficou de fora. Ou melhor, uma parte boa. Surfe Deluxe apresenta, com exclusividade, um pouco mais da menina que só tem medo de não poder realizar seus sonhos.

SD - Maya será só surfista? Ou tem outros sonhos?
Maya - Tenho o ensino médio completo. E a vida me ensinou muita coisa. Depois do surfe, quero estudar biologia marinha ou oceanografia numa universidade havaiana.

SD - A pergunta básica: como foi o início no surfe?
Maya - Comecei a surfar aos 14 anos na escolinha do Arpoador. Aos 16, fiz alguns campeonatinhos regionais, e o passo seguinte foi me formar para viajar. Até o momento em que eu comecei a surfar, eu era uma boa aluna. Depois, me descuidei um pouco. Existem outras formas de crescer sem ser numa sala de aula....

SD - Qual o seu livro preferido?
Maya - O caminho do guerreiro pacífico, Dan Millman.

SD - Começou a viajar o mundo já nesta época?
Maya - Saí do Rio formada, e avisei que voltaria para fazer o vestibular. Disse a meus pais que iria ali rapidinho, mas fiquei seis meses viajando o mundo. Depois, não parei mais.

SD - Está entre as suas metas, algum dia, correr o circuito mundial com as meninas?
Maya - Não, porque eu não sou boa nisso. Sendo sincera, manobra não é o meu forte.

SD - Seu pai é um símbolo de luta pela liberdade. Em que ele te influenciou?
Maya - Meu pai me deu muita liberdade. Se eu tivesse nascido em qualquer outra família, não teria repetido esse caminho. Poderia ter sido ruim, mas foi bom. Meu pai é, antes de tudo, um exemplo em casa. Ele é um cara super saudável e disciplinado. Para ele, é natural comer bem, trabalhar muito e ter uma história de coragem. Tenho orgulho dele. Ele trata os desafios como se fosse uma coisa natural. Eu também.

SD - Pretende, um dia, voltar a morar no Rio?
Maya - Eu sou muito calma. É muito difícil me adaptar a uma cidade, com toda essa violência. No meu segundo dia de Rio, roubaram a minha bicicleta. Quando estou no Havaí, saio para correr ainda no escuro, sem nenhuma preocupação. Até gosto de vir ao Rio visitar meus pais, mas ficar aqui, me adaptar a esse life style, não.

SD - Nas viagens mais longas, onde você se hospeda?
Maya - Algumas vezes fico de graça nos lugares. Em Asu, por exemplo, ficava de graça no Surfcamp do Henrique (Pena). Nas Mentawai, fico no barco de um amigo. Na Califórnia, já me hospedei na sala da casa do Jeff Clark com o Danilo Couto e outros. As pessoas do big surfe são muito welcome, muito unidas. Se alguma coisa acontece, todos estão prontos a ajudar.

SD - Tudo na vida tem um preço... Você já se machucou surfando?
Maya - Quebrei o nariz várias vezes. Tenho várias marcas de cortes de coral pelo corpo, desloquei o ombro, etc. Sou toda marcada. Gostaria até que as cicatrizes fossem embora, mas elas sempre voltaram em pouco tempo, né? Mas já falei com a minha mãe que a partir de agora terei menos cortes, porque onda grande costuma quebrar em lugares mais fundos.

SD - Você surfa todo dia?
Maya - Quando está grande, eu surfo. Mas, em dias com ondas de menos de oito pés, encaixo os meus treinos: uma hora de natação, uma hora e dez minutos de corrida, meia hora de musculação e um tipo de yoga chamado Bikhram, que é realizada numa sala aquecida. Você sua muito, é um exercício.

SD - Como você lida com o caldo?
Maya - O problema não é o caldo. É preciso manter a calma em situações críticas, quando você é levado para uma zona de arrebentação mais complicada. No caldo, é importante ir para baixo d´água preparada.

SD - E com as críticas, como você lida?
Maya - Sempre vai ter gente para criticar. Aceito todas as críticas, e divido meu tempo entre o Havaí, a Indonésia e outras ondas do mundo por isso. No início era um risco, mas nunca sofri um acidente que me impedisse de cair na água. Com o tempo, as pessoas vão pensar duas vezes antes de me criticar.

SD - Você tem medo?
Maya - Vim aqui para surfar ondas gigantes, nasci para isso. Meu sonho é chegar ao nível dos homens, pegar ondas de 70 pés de face. Acredito que vou atingir isso. Meu maior medo é não conseguir realizar meus sonhos.

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