Surfe deluxe

Diário (IV): a primeira vez em Pipe

11.1.08

No quarto post do diário do Havaí, escrito pelo economista-surfista Pedro Ribeiro - ou seria surfista-economista -, enfim, a primeira vez de um mortal em Pipeline.
Leia aqui: o primeiro post, o segundo post e o terceiro post do diário.

Dias 07 e 08/01 - North Shore, Oahu

O swell virou e Pipeline despertou, só que um pouco menor. As condições não estavam boas, com ondas menores subindo mais ao lado, a maioria das séries fechando, enfim... difícil de se dar bem. Mas era o dia, não tinha como escapar. Café, barrigada, segundo check out, e-mails, tum-tum, alongamentos.

Séries de 6 pés, intermediárias de 3 pés. Demorei pra entrar porque a série não subia e queria ter certeza que não seria apanhado. Foda-se, entrei no intervalo. Tava mamão. A vala me jogou lá dentro. Não demorou e peguei logo a primeira. Coloquei pra dentro numa de 3 pés e morri lá dentro. Boa. Peguei outras duas pra pegar o tempo e me arrisquei numa maior.

Então... hahaha. Aí, Beto! Me lembrei de você. Fui lá pra fora, me coloquei mais pra dentro do pico. Outros 37 bb's tentavam a mesma onda comigo. Complicado. Mostrei vontade numa da série em que eu estava na preferência. Era a 3ª ou a 4ª da série, e achei seguro arriscar.

Remei forte, vi que nego aliviou, fiquei mais amarradão, era perfeita! Tava tudo perfeito... demais pra ser verdade. Simplesmente SECOU! Tudo. Quando vi, estava solto no ar. Tudo preto embaixo. Deu medo. Larguei a prancha e afundei de pé como prego. Parecia ter água suficiente. E tinha. Afundei bem, e não sofri nada. A prancha estava bem e não subiu qualquer onda atrás. Voltei remando meio assustado, assim como os olhares de metade da população do pico, que pararam para ver a cena. Hahaha! Tô vivo!!!

Vamos pra próxima. Demorou pra caralho! Comecei a sentir uma fotofobia. Não conseguia ficar de olho aberto direito. Muita claridade. Comecei a querer sair logo do mar. Tava ficando com dor de cabeça. Peguei uma intermediaria que abriu mas não rodou e não formou parede... Fui pra casa amarradão. Tomei uma ducha e fiquei relax vendo o mar. Comi uma parada e fui escrever meu diário. Chapei e quando acordei ainda estava com a sensação ruim na vista e por conta disso não caí no fim da tarde. Amanhã o mar vai dar uma pequena diminuída, e o swell vai mudar pra
oeste, o melhor pra Pipeline.

Como previsto, o mar deu uma diminuída, mas não virou pra oeste. Continuou de nordeste. Essas condições são perfeitas pra Rocky Point. Depois de checar o mar em Pipe e em Off The Wall, peguei uma bicicleta e percorri pico a pico até Velzyland, um dos últimos dessa região. OTW era realmente a maior onda, com direitas de 5 pés na série com bastante força. Pipe tava menor e pouco tubular. Backdoor estava bem legal, com ondas de 4 pés na série, rodando bonito.

Como meu objetivo é surfar Haleiwa, Pipe, Sunset e Rocky Point, preferi matar mais um pico e deixar Sunset pra outro dia. Aliás, ontem rolaram altas por lá.

As ondas em Rocky Point estavam PERFEITAS!! Vários fotógrafos na areia, muito rosto conhecido, e não muito crowd dentro dagua. A entrada foi mamão, passei pelo crowd da esquerda e me coloquei mais pras direitas. Tinham pelo menos quatro picos de onda quebrando, o que deixava o crowd bem espalhado. Tava certo que aquele era o mar pra surfar o primeiro tubo no Hawaii. Foco!

As ondas tinham 5 pés na serie, com intermediarias de 2-3 pés. Surfei uma esquerda pra abrir a caída. Nada demais. Depois, uma direita maior que veio na série, mas que fechou. Assim que pude larguei a prancha pra poder voltar logo. Ledo engano. A bancada de pedra faz com que a espuma não te largue e te arraste por longas distâncias. O resultado foi que tinha alguns palmos d’água e eu ia me desdobrando pra não me lanhar nas pedras. Acertei uma bem forte com a bunda, mas nada aconteceu. Me liguei na situação. O certo é ficar quieto em cima da prancha e quando der, começar a remar. Isso sem falar nas duas cabeças de pedra que habitam o local.

Pois foi em meio a todos esses aprendizados que o Fabio Gouveia chega ao meu lado com aquela cara amistosa que todos conhecem. "Fabinho, sou teu fã", disse a ele. Gente boa o cara. E como surfa!!! A primeira onda dele foi um tubaço! Vi pelo menos outros 3 incríveis! Irado!

Bem, já tava demorando quando encontrei uma esquerda perfeita, de 1 metro. Já dropei me colocando pro tubo. Não deu outra, o lip passou pela minha cabeça e sai pela porta. Um tubo simples, mas inesquecível! Fiquei amarradão. Voltei, peguei mais algumas ondas, morri dentro de um tubo muito longo pra esquerda e saí do mar certo de que aquela tinha sido uma bela aula de Hawaii. Que venha a próxima!

De tarde fui ate a cidade Honolulu alugar um carro porque o sul-africano tinha que devolver o dele. Que cidade grande! Nem parece uma ilha! Impressionante foi ver como as ruas são bonitas, com tochas de fogo, jarros de flores nos postes, uma puta infra-estrutura em Waikiki. Os hotéis são impressionantes! Vale a visita.

De volta à Ferrugem dos idos anos 90, o North Shore, e já alimentado com um belo Double Whooper do Burger King, chego pra filar o laptop do Hugo, com conexão WiFi furtada de algum visinho desavisado, e vos escrever. Tá uma paz celestial na casa porque acho que foram todos dar uma banda. Graças a Deus! Amanhã a previsão e que o swell diminua um pouco mais. Devo pegar experiência aqui em frente... Backdoor, quem sabe?

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Blog de notícias sobre as ondas e seus personagens, escrito com palavras salgadas pelo jornalista Tulio Brandão.
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Foto de fundo: Saquarema, por Fábio Minduim / Layout: Babi Veloso
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