Surfe deluxe

A sobra do surfe

17.11.07

O surfe sempre se vendeu como um esporte ambientalmente limpo, apesar da montanha de resíduos químicos gerados na produção de seus equipamentos. Diante da febre eco friendly do mundo, o mercado se vê numa encruzilhada entre tecnologias menos agressivas à natureza - mais caras e algumas vezes ainda sem resultados satisfatórios - e as velhas, sujas e já consagradas técnicas de produção.

A maior carga de poluentes ainda vem da fabricação de pranchas. Segundo o shaper Joca Secco, da Wet Works, são gastos, por prancha, pelo método convencional mais antigo, em média, 2 quilos de fibra, 3,5 quilos de poriuletano e 4 quilos de resina. Dos 9,5 quilos utilizados, ficam no equipamento apenas pouco mais de 2,5 quilos. Ou seja, cerca de 73% de perda. Esse volume, em números absolutos, é enorme. Em matéria no último guia de pranchas da Fluir, Ricardo Macário nos conta que a Association Clean Shaper estima que 600 mil pranchas sejam produzidas anualmente no mundo com esse método. Conta feita, o surfe joga no meio ambiente, por ano, 4,2 mil toneladas de produtos altamente tóxicos. Isso sem contabilizar as pranchas usadas, que depois de um tempo também são descartadas.

Nesse mar de resíduos químicos, começam a surgir bons exemplos. A Wet Works de Joca, uma das mais bem estruturadas fábricas do Brasil, reduziu assustadoramente a perda de resina ao utilizar um sistema de secagem de pranchas através de raios ultra-violeta (UV).

"No processo convencional, se utiliza quatro quilos de resina para o aproveitamento de menos de um quilo. Com a tecnologia UV, conseguimos reduzir drasticamente o desperdício desse produto e ter uma perda de, no máximo, 10% do material. Além disso, estamos cadastrados na coleta especial de resíduos da Comlurb. Eles levam tudo", explicou Joca.

É um primeiro passo de um longo caminho ainda a percorrer.

As fábricas de prancha brasileiras, de um modo geral, ainda resistem às exigências estabelecidas na legislação ambiental, muito por falta de condições financeiras e um pouco pelo sucateamento dos órgãos fiscalizadores. Nos EUA, essa queda de braço com o braço verde do estado já gerou prejuízos ao surfe. A gigante Clark Foam fechou as portas em 2005 quando detinha 60% do mercado mundial de poliuretano. O motivo? Inadequação à legislação ambiental dos EUA.

Ainda não se sabe o que, de fato, é ação em busca da sustentabilidade e o que é puro marketing. A Magma Surf Wax, da California, acaba de lançar uma ecoparafina. Anunciam que a produção tem soluções "environmentally friendly" e que usam tecnologia para gerar consistentes tabletes com perdas mínimas. Em outras palavras, sobra pouco para o meio ambiente.

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